Eu ouvi quando ele desligou o chuveiro e saiu do banheiro todo molhado. Ouvi ele entrando no nosso quarto rápido, respingando água pelo chão todo, e puxando a toalha no gancho atrás da porta pra se enxugar.
Enquanto ele a esfregava na cabeça, eu dei uma secada nele… Meu primo, Alerrandro. Neguinho magrelo, bangalona pendurada, a pentelhada preta marcando a virilha. Do jeitinho que o diabo gosta.
Então eu ri pra dar uma disfarçada.
— Porra é essa! — Brinquei. — Raspa esses pelos, mano! Olha o tamanho dessa mata!…
Apesar dos 18 anos, ele já tinha uma pentelhada basta ali embaixo. Dentro de casa, vivia andando sem camisa com a bermuda descida no limite da virilha, mostrando as entradinhas da barriga e o começo dos pelos.
— As mulherzinha que gosta, fi — ele riu, agora passando a toalha nos pentelhos e no saco.
Mas eu sabia que não era isso. Quem gostava dele pentelhudo daquele jeito era o vô Márcio.
O vô Márcio… A gente mora na casa dele. Melhor: na chácara dele. Eu e o Alê. Claro que eu sempre soube que o vô tinha um neto favorito entre nós dois, igualzinho uma mãe de casal que diz que ama os dois filhos por igual, mas sempre pende a gostar mais do filho homem que da mulher.
Eu era a “filha mulher” pro vô Márcio. O Alê, o filho macho.
Ele ganhava, tipo, umas coisas que eu não ganhava no mesmo nível. Ele tinha todas as camisas do mengão que o vô comprava pra ele. Ganhava chuteira, relógio, tênis. No último aniversário, o vô deu um Galaxy J7 zerado pra ele. Eu ainda tinha um daquele Grand Neo Plus de 2014 caindo os pedaços… O Alê era o sortudo. Se ele pedisse, não tinha coisa que não ganhava.
E ele se esbaldava na boa vontade do vô Márcio… Eu era mais modesto. Não tinha coragem de sair pedindo as coisas pra ele assim, na cara dura, que nem o primo. Tinha vergonha, na verdade. Com 22 anos, eu não me via mais como um fedelho abusado e pidão. Simplesmente, não conseguia imitar o Alê nesse aspecto. Ele era molecão, era compreensível que fosse descarado. Eu já tava grandinho demais pra isso.
Mas só comecei a desconfiar que o vô Márcio não mimava o Alê daquele jeito à toa depois de presenciar uma cena rápida que, na hora, não me chamou a atenção. Só depois foi que fui pensar melhor nela e ligar uns pontos…
Eu tinha acabado de chegar da rua e entrei em casa de repente. O vô e o Alê estavam na cozinha. Passei por eles e fui direto pro quarto me desfazer da mochila, voltando pra sala logo em seguida. O Alê já tava estirado no sofá maior com uma almofada no colo. Eu puxei a almofada pra mim e ele se encolheu, reclamando. Por baixo da bermuda, vi a ereção. Não tinha como não ver, na verdade. O Alê tem fácil uns 22 centímetros de pica ali embaixo dos panos. Quando aquilo endurece, rapaz… Uma tora! Não tem como não ver aquele fuzil armado mirando a gente embaixo do short.
Eu fingi demência na hora, mas retornei a essa cena à noite, já de madrugada… Pra ser sincero, eu fantasio com o Alê. Primo, novinho, magrinho, pretinho, bigodinho e cavanhaque, meio burrinho, meio ingenuozinho. Tudo “inho”, menos o pau. É meu primo, ok, mas é isso que me dá tesão. E claro que não é a primeira vez que eu flagro ele em situações íntimas e fico revivendo isso enquanto soco uma embaixo do cobertor com ele dormindo na cama do lado. Na verdade, bato um bolo pro Alê pelo menos umas 10 vezes na semana. Eu já abaixei a roupa dele de propósito na lutinha, já fui no banheiro pra pegar minha escova de dentes com ele no meio do banho, já entrei no quarto com ele trocando de roupa. Eu tô sempre armando umas situações assim pra me ocultar, e, pelo meu jeito posturado, duvido que ele já tenha percebido que eu faço isso pra sempre pegar ele pelado. Pra ele, tudo que eu faço é na zoeira.
Mas nesse dia, depois que leitei a mão e limpei na meia, dei uma respirada funda e lembrei da cara de constrangimento do vô quando eu cheguei de repente na cozinha. Pensando bem, o Alê também pareceu sem jeito quando eu apareci. Tinha um constrangimento repentino no ar com a minha aparição, mas eu passei por eles tão rápido que nem deu pra pensar nisso na hora. Aí, um minuto depois, o Alê já tava na sala com uma almofada escondendo a tora dura no short…
Eu sentei na cama com essa ideia fixa na mente. Ele tava disfarçando… O Alê e o vô tavam de rolo!
Desde esse dia, passei a deixar os dois a sós de propósito pra prestar atenção.
Mesmo quando tavam comigo perto, eu observava a interação deles caçando algum sinal que sustentasse a minha ideia. Apesar de parecer meio óbvio — o vô Márcio era um coroão de 50 e poucos, viúvo e com histórico de catar os recrutas na época do exército —, eu ainda relutava me perguntando se eu não tava imaginando coisas. Mas quanto mais eu pensava, mais a situação me parecia simples. O vô dava aqueles presentes todos pro Alê que, em troca, dava pica grossa pra ele.
Eu já tinha estranhado outra coisa também. Apesar do primo estar no auge do colégio, ele não se depilava — só cortava o cabelo e deixava o bigodinho na régua. Ele até falava que tinha um cara da sala dele, o Gustavo, que ficava zoando ele por conta dos pelos no sovaco. Acontece que dizer que o Alê tinha pelos no sovaco é ser bonzinho… Ele tinha dois guaxinins presos ali embaixo! O moleque vivia sem camisa ou de regata, e era uma mata, mas não fazia sentido pra mim que ele fosse contra a moda da molecada da idade dele de ser lisinho. Afinal, o Alê era bonitinho, presença, meio popular, bom de bola, devia pegar geral as mulherzinhas do colégio dele. Imagina ele abaixando a cueca com a trolha peluda do jeito que era na frente de uma delas…
Só que advinha quem gosta de pelos? O vô. Lembrei dele falando uma vez que pelo era coisa de macho, e incentivando o Alê a não se raspar, que se raspar era uma besteira, que homem tinha mais é que ser daquele jeito. Fiquei pensando se o Alê era pentelhudão por causa do vô… Fazia todo sentido, apesar de eu me achar meio idiota por ficar pensando nessa situação.
Fiquei de butuca nos dois por semanas pra flagrar o que eu suspeitava, mas não consegui. Um dia, eu e o primo no sofá com a TV ligada, sozinhos, perguntei se ele era virgem.
— Quê? — ele fingiu que não tinha ouvido.
Eu perguntei assim, do nada, de propósito. Queria induzir ele a falar de sexo pra testar a ingenuidade do Alê. Se ele ia ficar tímido pelo assunto, ou se ia demonstrar destreza. Se ele fosse o putão arrombador de viúvos que eu tava achando, talvez ele até soltasse alguma pista sem querer.
— Cê já meteu em alguém?
— Pra que tu quer saber? — ele riu.
— Só fala se já ou não.
— Mas tu quer saber pra que?
— Ué, pra saber. Tu come geral no teu colégio, né?
— Ih, viaja não, fi…
— Ah, para. Tu, com esse pauzão, deve torar até os manos.
— Sai fora, fi! Que papo é esse?
— Tu se faz demais, mano — eu ri.
— Se faz o que, maluco?
— Fica se fazendo de santo e já deve ter traçado até o diretor da escola…
— Ainda não, porque ele não quis!
A gente riu.
Eu tava chegando lá. Ele tava começando a ficar à vontade com a insistência, levar pra brincadeira. Que nem eu disse, pro Alê, eu tava sempre de zoeira…
— Mas já torou quantas mulherzinhas essa semana? Umas 15?
— Cê é louco, fi!
— Ah, conta aí…
— Contar o que?
— O segredo.
Ele agarrou o volume crescendo no calção, e balançou pra mim:
— É pica grossa! — E ficou rindo, todo todo.
— Esse é meu primão! Puxou quem? O vô?
Mas ele só riu. Então eu prossegui:
— O do vô deve ser maceta também. O cara foi do exército. O vô devia torar geral quando era molecão.
— O do vô é pequeno — o Alê riu.
Eu olhei pra ele com trejeito engraçado:
— Como é que tu sabe, viado?
— Ele que falou — continuou rindo, agora um pouco mais sem graça. Eu sabia que tava relando no que procurava.
— Caralho, maluco… — Eu fingi surpresa. — Achava que o vô tinha pistolão!
— Nada. É piroquinha.
— Ele já viu tu pelado?
O Alê ficou só rindo enquanto me olhava.
— Já — confirmou.
— E aí?
— E aí o que, viado?
— Que que ele disse, ué?
— Ah, sei lá…
— Ah, sério mesmo que ele não falou nadinha?
— Ah, disse que era grande só.
— Só isso?
— Só.
Ele tava mentindo. Eu sabia que tava perto. Só pelos sinais nessa conversa, já conseguia confirmar que os dois tinham mesmo algum rolo, alguma parada sexual, mas pela maneira como o Alê falava, não sabia dizer ao certo se ele era mesmo virgem ou não. Muito bobinho nas respostas, muito constrangido pra ser putão. Talvez, entre ele e o vô rolasse só punheta e nada de penetração. Até porque a pica do Alê é do tipo que deve entrar rasgando um cu, e eu nunca ouvi o vô gemendo ou o vi sentando torto.
— Ah, pensei que tu já tinha perdido o cabaço com as guria, mané… — Eu joguei a isca. — Que que adianta tu ter uma jeba desse tamanho e não usar?
— Mas eu não sou virgem, não, viado!
Eu olhei pra ele estreitando os olhos, como quem desconfia:
— Ah, para…
— É sério! — Ele se defendeu.
— Perdeu com quem então?
Mas então ele só riu.
— Tá vendo? — Eu voltei a cara pra TV. — Tu é cabaço ainda.
Meio minuto depois, ele mesmo retomou o assunto:
— Se eu te contar, tu não vai zoar, né?
Eu olhei pra ele e fiz que não.
Naquela noite, eu descobri que o vô ia dar uma bicicleta pro Alê. Uma daquelas topzonas, bem caras, cheias de frescura. Quando o vô chegou, eu botei meu tênis e falei que ia sair pra correr na rua, mas não saí da chácara. Pelo lado de fora, cheguei o ouvido na janela do quarto do vô com o coração pulando e fiquei ouvindo a conversa dele com o Alê. Já era de noitinha.
— Hein, cê quer que o vô dá um bike pr’ocê andar com os moleque, quer?
— Ah, eu quero — eu ouvia o Alê falando.
— Então o vô vai mandar trazer uma amanhã. Amanhã cê tá de bike nova pra sair.
— Valeu, vô.
— Valeu, não. Cê sabe que o vô faz essas coisa porque gosta d’ocê. Pr’ocê sair com os homens, azarar as mulherzinha, hein? — Ouvi a risadinha dele. — Cê tá azarando as mulherzinha?
O Alê só riu.
— Tem que azarar! Homão que nem ocê tem que meter nessas guria tudo aí até esfolar as danada! Cê tá metendo nas guria? Tem que meter!
O Alê ria. Os dois tavam no quarto do vô. A luz ainda tava acesa.
— Deixa o vô ver o Homão, deixa!
Um silêncio que eu imaginava ser o Alê tirando a bermuda.
— Eita… O bicho é grande, hein. Negro assim que nem tu é outro nível… Tem que sair, se divertir, meter nas guriazinha. Engravidar o bairro todo. Vem cá. Deixa o vô pegar. Olha, que bicho grande… A mão nem fecha.
— Vô — ouvi a voz do Alê —, a bicicleta é de marcha?
— É de marcha, toda potente. Que nem ocê… A bicha é grande também, toda que nem ocê. Meu homão. Homão do vô…
Aqui, com o silêncio repentino, eu colei ainda mais o ouvido na janela. Sabia que os dois não me escutavam (apesar do Alê saber que eu tava lá fora ouvindo tudo).
Ouvi um som de fricção. Supus que era o vô socando uma pro Alê. Depois, um barulho de língua e saliva. Era o vô mamando o Alê. Ficaram nisso até eu ouvir uma respiração pesada. Era o Alê. Fiquei acompanhando até ouvir ele gemer em sussurros contidos. Sabia que o vô tava engolindo porra nessa hora e era uma pena que, na janela, não tinha furos pra eu espiar. Me restou ouvir e ficar imaginando tudo…
O pessoal da loja veio deixar a bicicleta do Alê no dia seguinte bem cedinho. Novinha, zerada, toda cheia dos adesivos. Eu fiquei olhando pra ela, e depois pro meu celular todo arrebentado — a porra de um Grand Neo Plus com a bateria já estufando. Tirei a camisa, abaixei a bermuda bem no limite da virilha, deixando mostrar o começo dos pentelhos, e fiquei amassando a braguilha até meu pau ficar meia bomba. Depois, fui me estirar no sofá do lado do vô.
Quando ele olhou pra mim, todo largado daquele jeito, eu fiz cara de paisagem e inocência, e disse:
— Ô vô, tem como o senhor dar um celular novo pra mim?
***
FIM
Jesús Blasco, agosto de 2023
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